O ser humano sempre fez valer o seu direito de ir e vir, e durante muito tempo, esse foi um objetivo comum para todos.
Fosse para subir uma montanha para descobrir o que tem do outro lado, atravessar um oceano para descobrir novas terras, colocar os pés na Lua, o tal "ir e vir" sempre esteve aliado a curiosidade sobre o mundo e o desejo de poder realizar tudo o que queria.

E entre charretes, ônibus, caravelas, foguetes e helicópteros, o transporte começa a evoluir também em pontos menores, mas nem por isso menos importantes. Surgem as facilidades diárias de movimentação, trocamos as escadas de piso e madeira por escadas-rolantes, pisos-rolantes e por que não dizer também elevadores?

O primeiro foi criado no século 1 a.C. por um engenheiro romano, tendo no século XIX a criação do primeiro movido por acionamento elétrico, evoluindo assim juntamente com os outros meios de transporte.

Útil e indispensável no dia-a-dia, onde a engenharia civil evolui para tentar tocar o céu, não como os homens gananciosos que construíram a Torre de Babel, mas sim pela falta de espaço útil aqui no chão mesmo. Em Salvador, por exemplo, divide a cidade em duas partes.

Apesar disso, é, muito possivelmente, um dos mais limitados de todos, pois apenas se move em uma vertical parando periodicamente em pontos pré-estabelecidos. A não ser que estejamos falando de um visionário como Willie Wonka.

Ainda na primeira semana de aula, no ano de 2006 mesmo, corremos e seguramos uma porta daquelas pela primeira vez para não chegar atrasados em uma aula de Geral Estrutural depois do almoço grátis no Burguesão. E, de quebra, levamos o primeiro esporro de elevador.
Muitas coisas aconteceram naquele curto espaço físico, que liga o térreo aos demais andares do prédio. De garrafas de coca-cola cheias para segurar a porta, apostas de quem tirou a pior nota na prova de cálculo 4, das piadas rápidas dos professores companheiros de viagem, de ficar preso minutos solitários, de portas do segundo andar que nunca fecham, das festas quando a luz se apaga, da presença em nossos quadrinhos, dos barulhos inesperados gerados por tal máquina, e também seus comportamentos randômicos como só parar no andar que quer e quando quer.
Contudo, essa semana, nossos adoráveis aleatórios meios de transportes inseguros causaram uma crise generalizada ao Instituto, e as nossas vidas também, por que não?
Oficialmente, um incômodo à sociedade ocorre apenas quando esta manifesta sua desaprovação para com algo ocorrido ou ocorrente mediante a um responsável portado de autoridade para resolver tal problema. O incrível é como isso não gera uma solução rápida como quando ocorre com o tal próprio responsável. E foi isso que assistimos nesta semana que se passou.
Portas fechadas, aulas canceladas, intranqüilidade quanto ao futuro da Semana da Química e das nossas disciplinas esse período, reuniões com a alta "staff" da Universidade afim de se discutir algo e se resolver sem ao menos se chegar a lugar algum.
O clima de inquietação e apreensão se expandiu por todos os indivíduos que destes elevadores utilizam, até chegar ao extremo do ocorrido de ontem.
Estava eu indo conferir se teria ou não aula de física 2 (que para variar não teve), e resolver fazer uso deste bem público, mesmo custando aguardar um tempo na fila. Embarquei e chegamos então ao segundo andar, e pra variar, uma longa espera de porta quase-fechando-quase-abrindo. Após pouco mais de dez minutos de espera, o objeto metálico parece enfim conseguir romper a barreira de seu sensor estupidamente ativado pela luz do Sol causadora de um efeito fotoelétrico, só parece.
Ao estar quase se fechando a porta, uma mão diabólica surge do fundo e começa a força contra o seu sentido, então devido por um conjunto complexo de engrenagens, gerando aquele famoso e desconfortante som do aço sendo arranhado. Um dos passageiros então, indignado com o ato vândalo do apressado que não respeitou o estado quase-ferro-velho destes aparelhos e, muito menos, aos outros passageiros que tanto aguardaram, resolveu tirar a limpo essa história. Em meio a discussão e ameaças, envolvidas de palavreado chulo não aqui reproduzido, a porta enfim se fechou, seguindo ao terceiro andar, onde o passageiro revoltado desceu para resolver na mão o seu problema, seguido de um professor que pretendia evitar o problema.
É evidente que o inevitável aconteceu, até que se fizesse necessária a presença de seguranças para resolver a encrenca.
Sim, o espírito da tensão da crise se espalhou, e atingiu a todos.
Desde os atrasados até os preocupados com o que será de Processos Cinéticos.
Foram prometidos consertos, que teoricamente ocorrem no momento em que escrevo, e que semana que vem estaria tudo normalizado.
É uma crise política, econômica e cultural da sociedade que deveria servir de exemplo para a Sociedade em si.
E tudo isso, porque ninguém quer subir, no máximo sete andares, de escada.
Esses são os seres humanos, seus desejos e seus poderes.
Carlos Eduardo,
que não liga de subir de escada, mas só queria a normalidade restabelecida.